fazer corpo

instalação site-specific.

seres vegetais, animais e minerais, tecido, pedras, nylon.
tamanho variável.
2020

*

detalhe

Como uma escrita, ou uma partitura própria, de um espaço-duração, o projeto começa com uma primeira proposição de relação se dá no corpo-rio: por 24 horas sob a forma de uma rede
traspassada, um relato começa a ser tecido a partir da errância interior do rio, um fluxo de consciência fora dos padrões cartesianos, sem início e sem ponto final. Um curioso conjunto de lógicas de existências diversas parece se sobrepor, inscrevendo seu ritmo, sua passagem, como uma partitura em movimento, incorporando a vibração própria do ser-rio que é corpo e veículo para outros seres. É um ser passagem. A sua deriva em movimento perpétuo, torna-o um devir-outro constante visto que, em sua jornada, leva em si existências múltiplas e plurais seguindo sempre em direção ao deságue, dissolvendo suas águas em outras infinitas. Nesse entrecruzamento, rede - rio - corpos, diversas relações são configuradas. De tempos em tempos é como se o rio parasse, buscasse em seu corpo profundo outros corpos com que pudesse escrever. Escreve uma folha, um graveto ou um musgo, lembretes, rastros, fragmentos, signos em linguagem fluida de fluxos, e então retoma seu rumo. É uma maneira de compor, a notação chama à escuta. A rede, por sua vez, incorpora partes do corpo-rio, sem restituí-las a um todo que as ordena, busca preservá-las em uma amorosa tarefa de costurar e coser. São corpos que ali performam.

Uma segunda proposição de relação é colocada, quando encontro com essa escrita e me proponho a bordá-la e trazer junto. Nesse encontro duas questões de colocam: a escuta e o peso /a leveza. Como escutar o que se vê? Muito mais do que ao trabalho em si essa atribuição aparece na capacidade de escuta do visível a partir dos corpos, daquele que vê e daqueles que ali performa suspenso e aéreo. É porque possuímos corpos que há convergência entre os sentidos, corpo é voz e voz é corpo, movimento e ritmo, cheio e vazio, som e silêncio. E como experenciar o peso e a leveza dos nossos corpos - o meu e os desses seres em suspensão - em situação dinâmica? O ar, é ele também outro componente fundamental da proposta, afinal é por ele que os corpos podem dançar em suspensão, vibrar, se encontrar. É ele que infla os espaços vazios do nosso corpo e permite a passagem, do peso absoluto para leveza que nos alça voo.