bárbara schall
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Texto para catálogo da exposição Segue-se Ver o que Quisesse
Palácio das Artes, Belo Horizonte, MG / Brasil.

No meio da tarde a artista Barbara Schall para numa rua movimentada da cidade de Belo Horizonte. Ela carrega um cubo de madeira cuja parte externa está completamente coberta por espelhos. Barbara circula pela rua, apreendendo com todos os sentidos as misturas de cheiros, cores, sabores e sons efervescentes de pessoas, carros e vendedores e seus produtos. Nesse lugar de circulação e trocas rápidas os sentidos são solicitados e parece que o corpo todo é transformado em olhos. É nesse momento que Barbara para e se propõe a interromper o fluxo rápido dos passantes - máquinas e homens -, pega o cubo e coloca-o na cabeça. Aqui ocorre uma estranha inversão, pois, Barbara tem, nesse momento, sua visão obstruída. Nesse estado de aparentemente suspensão do olhar sua cabeça inteira é transformada em espelho e reflete, sem apreender, as imagens do entorno, as pessoas e seus fluxos na via urbana. Nessa intencional ironia de observador, a artista se transforma em observatório para todos os olhos de passantes anônimos e coisas que configuram o lugar. Esse cubo/caixa/espelho nada apreende apenas deixa momentaneamente ver o instante que insiste em escapar. É nesse momento que a fotografia entra no trabalho, capturando naquilo que poderíamos certamente denominar como auto-retrato as coisas próximas e estimulantes que constituem a existência da artista naquele exato momento. Todos os auto-retratos de Barbara Schall, em diferentes situações e lugares, presentificam sua relação com o espaço que habita e, em cada cena apreendida pelo registro fotográfico, se interroga e nos faz pensar acerca da angustiante condição do existir.

Janaína Melo é gestora e educadora em museus, curadora e pesquisadora nos campos da mediação, arte e cultura visual.
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