bárbara schall
textos
sobre
coletoras
objeto e fotografia.

cabelo, pedras, carvão, sementes, flores secas. dimensões variáveis.
impressão mineral em papel de algodão.
2018
Coletoras, foi pensado a partir da ideia de continuidade. Dos rastros e histórias que nos são deixados e delegados e que escolhemos coletar, guardando nas nossas bolsas e cestos para podermos narrar histórias, testemunhar acontecimentos. O cabelo, material de que é feito o cesto, assim como os ossos, dentes e unhas são rastros que ficam e que muitas vezes são buscados como maneira de restituir um corpo que desapareceu. presença e ausência se relacionam na permanência da matéria. Em conjugação com aquilo que coleta, torna-se um ente multiespecífico, promovendo uma infinidade de possibilidades e modos de vida e alteridades.

O cesto como recipiente de coleta - uma folha, uma cabaça, uma concha, uma rede, uma bolsa, uma bandolera, um saco, uma garrafa, uma caixa…- compõe com nosso desejo de entendimento e de alimentação, é símbolo de pertencimento, aquele que guarda as nossas e os para além de nós, nos ajudam a entender onde estão nossas batalhas na jornada da conquista de direitos.
Diferentemente da tríade ferramenta-arma-palavra usadas para contar uma única história, a do criador-Homem-caçador, que tem como missão matar e trazer a caça no seu regresso, o cesto coletor tem a possibilidade de gerar relatos mais ricos, extravagantes, plenos, contínuos, revolucionários… histórias com lugar para o homem-caçador, mas que não tratam nem são sobre ele, sobre esse Humano autoconstruído, excepcional, combativo e fálico. O cesto guarda possibilidades outras de histórias, de narrações, de possibilidades, humanas e mais-que-humanas, sugere histórias de devir-com, de revoluções, de semeaduras e plantios, de espécies companheiras cuja tarefa de viver e morrer não significa a de terminar uma narração, um testemunho ou uma configuração de mundos. Mais do que isso, o cesto coletor tem compromisso com a continuidade, a multiplicidade e as mais improváveis performatividades. Como o tempo, não desenrrolam uma narrativa lisa e linear, progressiva, mas são como uma 'corda muito desfiada e solta em mil mechas, que pende como tranças desfeitas; nenhuma dessas mechas têm lugar determinado enquanto não forem todas retomadas e trançadas no penteado'(w.benjamin).

Agradeço a Úrsula Le Gain e a Donna Haraway por suas bolsas de ficção, e por semearem em mim possibilidades outras de narrar histórias.

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